Carta nº 1 (ML - 1) - Argumentos Contrários à Demonstração de Fenômenos Psíquicos

CARTAS DOS MAHATMAS PARA A. P. SINNETT, vol. 1, pp. 35/41, Ed. Teosófica.

Carta nº 1 (ML-l), de 17 de outubro de 1880.

[Nota 1: Da Carta nº 1 foram extraídos trechos escritos pelo Mahatma K.H., que explicam e justificam por que se recusou a demonstrar poderes psíquicos para os próprios teosofistas e os céticos em geral, conforme pedido que lhe foi dirigido por escrito pelo Sr. A.P. Sinnett (APS)]

[Nota 2: Argumentos contra a demonstração de fenômenos psíquicos no âmbito da Ciência:]

"(...) o mundo ainda está no seu primeiro estágio de libertação, se não de desenvolvimento,
portanto - despreparado. É verdade que nós [os Adeptos] trabalhamos usando leis e meios naturais e não sobrenaturais. Mas como de um lado a Ciência se veria incapaz (no seu estágio atual) de explicar as maravilhas feitas em seu nome, e de outro lado as massas ignorantes ainda veriam o fenômeno como se fosse um milagre, qualquer um que testemunhasse a ocorrência ficaria desequilibrado, e os resultados seriam deploráveis." 

"Loucos são aqueles que, especulando apenas sobre o presente, fecham voluntariamente os olhos para o passado, quando já são naturalmente cegos para o futuro! Longe de mim a idéia de incluir você [APS] entre esses - portanto tentarei explicar a situação. Se cedêssemos ao seu desejo, você sabe realmente quais seriam as conseqüências? A inexorável sombra que segue todas as inovações humanas se movimenta e, no entanto, poucos são aqueles que estão, de algum modo, conscientes de sua aproximação e de seus perigos. O que poderiam esperar aqueles que gostariam de oferecer ao mundo uma inovação que, devido à ignorância humana, se fosse considerada autêntica, certamente seria atribuída àqueles poderes das trevas em que dois terços da humanidade acreditam com temor? Você diz que metade de Londres seria convertida se você pudesse entregar ao público de lá o jornal Pioneer no mesmo dia da sua publicação [na Índia]. Permita-me dizer que, se as pessoas acreditassem que a coisa era verdadeira, elas o matariam antes que pudesse dar uma volta no Hyde Park, e se elas não acreditassem, o mínimo que poderia acontecer seria a perda da sua reputação e de seu bom nome, por propagar tais idéias."
"O êxito de uma tentativa do tipo que você propõe tem que ser calculado e baseado num profundo conhecimento das pessoas à sua volta. A atitude das pessoas diante dessas questões mais profundas e misteriosas que podem sensibilizar a mente humana - os poderes deificos no homem e as possibilidades contidas na Natureza - depende inteiramente das suas condições sociais e morais. Quantos, mesmo entre os seus melhores amigos, daqueles qüe o rodeiam, têm mais que um interesse superficial nesses assuntos tão complexos? Você poderá contá-los nos dedos da sua mão direita. A sua raça se orgulha de ter libertado no seu século o gênio há tanto tempo aprisionado na estreita garrafa do dogmatismo e da intolerância - o gênio do conhecimento, da sabedoria e do livre pensamento. E diz que o preconceito ignorante e o fanatismo religioso colocados numa garrafa como um velho gênio maligno, e lacrados nela pelos Salomões da ciência, repousam no fundo do mar e nunca mais poderão escapar para a superfície, e reinar sobre o mundo como fizeram no passado; que a opinião pública está completamente livre, em resumo, e pronta para aceitar qualquer verdade que seja demonstrada."

"Ah, sim, mas isso é realmente verdade, meu respeitável amigo? O conhecimento experimental não surgiu em 1662, quando Bacon, Robert Boyle e o Bispo de Rochester transformaram, mediante uma autorização real, o seu Colégio Invisível numa sociedade para a promoção da ciência experimental. Eras antes da existência da Royal Society se tornar uma realidade, sob o plano de um Esquema Profético, um anseio inato pelo oculto, um amor apaixonado pela Natureza e seu estudo levaram homens de várias gerações a experimentar e mergulhar nos seus segredos de modo mais profundo que os seus contemporâneos. Roma ante Romulum fuit [Roma existia antes de ser fundada por Rômulo] - este é um axioma que nos foi ensinado em suas escolas inglesas."

"As pesquisas abstratas dos problemas mais complexos não surgiram no cérebro de Arquimedes como um assunto espontâneo e até então inédito, mas sim como um reflexo de investigações anteriores feitas na mesma direção por homens tão anteriores à época dele quanto o grande siracusano é anterior à época de você - e muito mais."
" O vril de 'A Raça Futura' foi propriedade comum de raças agora extintas. A própria existência dos nossos ancestrais gigantescos é agora questionada, embora nos Himavat {Himalaias], no próprio território controlado por vocês], haja uma caverna cheia de esqueletos desses gigantes, e as suas enormes carcaças, quando forem encontradas, serão invariavelmente consideradas aberrações isoladas da Natureza. Do mesmo modo o vril ou Akas, como nós o chamamos, é olhado como uma impossibilidade, um mito."

"E, sem o completo conhecimento do Akas, de suas combinações e propriedades, como pode a Ciência encarar tais fenômenos? Não duvidamos que os homens da sua ciência estejam abertos a novas evidências. No entanto, os fatos têm que ser em primeiro lugar demonstrados a eles; devem primeiro tornar-se propriedade deles, comprovando que são compatíveis com os seus próprios modos de investigação, antes que estejam dispostos a aceitá-los como fatos. Basta você olhar o prefácio do texto 'Micrografia' para descobrir nas sugestões de Hooke, que as relações internas dos objetos tinham, do seu ponto de vista, menos importância que a ação externa deles sobre os sentidos - e as excelentes descobertas de Newton encontraram nele o seu maior oponente. Os modernos Hooke são muitos. Assim como esse homem erudito mas ignorante em relação a épocas anteriores, os seus modernos homens da ciência estão menos dispostos a sugerir uma conexão física dos fatos, que lhes poderia revelar muitas das forças ocultas na natureza, do que a produzir uma cômoda 'classificação das experiências científicas', de modo que a qualidade mais essencial de uma hipótese não é a de que ela deva ser verdadeira mas apenas plausível - na opinião deles."

[Nota 3. Argumentos contra a demonstração de fenômenos psíquicos com referência à natureza humana em geral.] 

"Quanto à natureza humana em geral, ela é igual agora a como era há um milhão de anos atrás: preconceito baseado no egoísmo; uma resistência generalizada a renunciar à ordem estabelecida das coisas em função de novos modos de vida e de pensamento - e o estudo oculto requer tudo isso e muito mais; orgulho e uma teimosa resistência à Verdade, quando ela abala as suas noções prévias das coisas - tais são as características da sua época, especialmente nas classes inferiores e médias."

"Quais seriam, portanto, os resultados dos fenômenos mais surpreendentes, supondo que tivéssemos concordado com a sua produção? Por mais bem-sucedidos que fossem, o perigo cresceria na proporção direta do êxito. Em pouco tempo, não haveria alternativa exceto continuar, sempre num crescendo, ou cair numa luta infindável com o preconceito e a ignorância e ser destruído por suas próprias armas. Um teste após o outro seriam solicitados e teriam de ser feitos; e se esperaria que cada fenômeno fosse mais maravilhoso que o anterior. Você diz todos os dias que não se pode esperar de alguém que acredite, a não ser que seja uma testemunha ocular. Seria suficiente o tempo de vida de um homem para satisfazer um mundo inteiro de céticos? Pode ser fácil elevar o número original de crentes em Simla para centenas e milhares. Mas o que dizer das centenas de milhões de pessoas que não poderiam ser testemunhas oculares? O ignorante - incapaz de atingir os operadores invisíveis - poderia algum dia extravasar sua cólera nos agentes visíveis do trabalho; as classes mais altas e cultas continuariam a não acreditar como sempre, reduzindo vocês a nada, como até agora."

"Vocês, como muitos outros, nos culpam pela nossa grande reserva. Todavia, nós conhecemos algo da natureza humana, porque aprendemos com a experiência acumulada ao longo de séculos - sim, eras. E sabemos que, enquanto a ciência tiver algo a aprender, e enquanto restar uma sombra de dogmatismo religioso no coração das multidões, os preconceitos do mundo têm que ser vencidos passo a passo, sem atropelos. Assim como o passado remoto teve mais de um Sócrates, o vago futuro verá o nascimento de mais de um mártir. A emancipada ciência desprezou a opinião de Côpérnico, quando ele renovou as teorias de Arístarco de Samos - que afirmou que 'a Terra se move circularmente ao redor do seu próprio centro' - anos antes que a Igreja quisesse sacrificar Galileu como um holocausto à Bíblia."

"O melhor matemático da corte de Eduardo VI - Robert Recorde - foi deixado passar fome na prisão pelos seus colegas, que riam do seu Castle of Knowledge, declarando que as suas descobertas eram 'vãs fantasias'. WilIiam Gilbert de Colchester, médico da rainha Isabel, morreu envenenado, somente porque esse verdadeiro fundador da ciência experimental na Inglaterra teve a audácia de antecipar Galileu, apontando a falácia de Copérnico quanto ao 'terceiro movimento', que era seriamente apresentado como explicando o paralelismo do eixo de rotação da Terra! O enorme conhecimento dos Paracelso, dos Agrippa e dos Dee foi sempre contestado."

" Foi a ciência que colocou a sua mão sacrílega sobre as grandes obras De Magnete, The Heavenly White Yirgin (Akas) e outras. E foi o ilustre Chanceler da Inglaterra e da Natureza - lorde Bacon de Verulam - que, depois de receber o título de pai da filosofia indutiva, permitiu-se falar de homens como os mencionados acima, chamando-os de 'Alquimistas da filosofia fantástica'".

"'Tudo isso é história antiga', pensará você. É verdade; mas as crônicas dos dias modernos não diferem muito das suas antecessoras. Basta lembrar as recentes perseguições de médiuns na Inglaterra, a queima de supostas feiticeiras e bruxos na América do Sul, Rússia e na fronteira da Espanha - para confirmar a nós mesmos que a única salvação para os verdadeiros conhecedores das ciências ocultas é o ceticismo do público; os charlatões e os prestidigitadores são os escudos naturais dos 'adeptos'. A segurança pública só é mantida porque mantemos secretas as terríveis armas que poderiam ser usadas contra ela, e que, como já foi dito a você, seriam mortais nas mãos dos perversos e dos egoístas."

"Concluo lembrando a você que os fenômenos pelos quais anseia foram sempre reservados como uma recompensa àqueles que dedicaram suas vidas para servir a deusa Saraswati - a nossa Ísis ariana. Se eles fossem oferecidos aos profanos, o que restaria para os que são fiéis a nós? Muitas das suas sugestões são altamente razoáveis e serão atendidas. Eu ouvi atentamente a conversa que houve na casa do sr. Hume. Os argumentos dele são perfeitos do ponto de vista da sabedoria exotérica. Mas, quando chegar o momento e ele puder ter um relance completo do mundo do esoterismo, com as suas leis baseadas em cálculos matematicamente corretos do futuro - os resultados necessários das causas que sempre temos liberdade para criar e modelar à nossa vontade, mas cujas consequências somos incapazes de controlar, e as quais, desta forma, se tornam nossos mestres - só então tanto ele como você compreenderão por que, para o não-iniciado, nossos atos frequentemente parecem pouco sábios, ou tolos, de fato."



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